Passo agora a transcrever o poema da sala de aula, inicialmente editado em Segredos, Sebes, Aluviões, tal como Joaquim Manuel Magalhães o recupera em Um Toldo Vermelho (Relógio d’Água, 2010, p. 154), obra na qual inclui o que considera recuperável da sua produção poética:
Num acanhado apontamento
pergunta a tabuada.A reza de números, a regente
indaga de seguida
numa página coçada
gramática.O arroubo, o ilógico
elemento decorado,
um pronome pessoal que laço
a um colega miudinho,
ígneo arrojo.
Não vale a pena fingir que se pode ler este poema sem a leitura contrastiva que a sua história solicita. É certo que se o leitor agora chegado à poesia de JMM ler Um Toldo Vermelho como a Obra, dispensará provavelmente tudo aquilo que, lá para trás, faz antes desta obra uma súmula. Nesta versão, a Obra não seria mais do que um privilégio do amnésico. Contudo, o problema maior da súmula da Obra a que o autor deu o nome, também ele «em versão curta» e por isso falsamente amnésica, Um Toldo Vermelho (título que recupera e ao mesmo tempo corta Uma luz com um toldo vermelho, livro de 1990), reside no envio para a memória que cada poema sobrevivente à poda produzida pelo autor põe, como que necessariamente, em marcha.