Sábado, 18 de Fevereiro, ao fim da tarde, Teatro da Cerca de S. Bernardo, espectáculo dos Bonecos de Santo Aleixo. Casa cheia, crianças em bom número, em rigor público dos 7 aos 77. O sucesso de sempre, justificadamente. O grande teatro do mundo em formato de bolso, o cristianismo espontâneo de milénios agora em divertimento para miúdos sem catequese, a quarta parede visível em forma de gradeamento que afinal é cordame (e a sabotagem da quarta parede na interpelação a elementos do público), a ilusão cénica com um sorriso mais ou menos rasgado, o cromatismo de que a cultura erudita desconfia, o pé que descamba facilmente na ordinarice «pimba» e que afinal – mais-valia pedagógica da tradição – vem de longe, o robusto primitivismo dos arquétipos e a celebração da pura dépense, enfim, o localismo idiomático, signo maior de um trabalho sobre o património como «reserva natural» do pobre. E ainda, suplemento obrigatório, o deslumbramento com que, findo o espectáculo, somos conduzidos aos bastidores, ou melhor, às traseiras esventradas da cena e da sua impressionante instrumentação low tech. A sensação, tão incorrecta quanto justa, de que se pode produzir um grande espectáculo a partir de «uma coisa de nada».