Advertisement
Exposições
Exposição de Boaventura de Sousa Santos no TAGV (I)
Série Negra, versão João B.
Era assim, a Série Negra d’A Regra do Jogo, em 1979 e 1980: centrada nos clássicos do mundo do crime… As capas, resolutamente cinéfilas, são de João Botelho, aliás João B., e não andam longe dos efeitos gráficos de «Conversa Acabada», o primeiro filme do cineasta, com data de 1981. Estes e muitos outros livros «desenhados» por João Botelho estarão expostos no TAGV a partir do próximo dia 8 de Março.
Recordamos que, conforme informámos anteriormente, a sessão do Páginas Tantas com João Botelho, que estava inicialmente marcada para hoje, foi adiada para a próxima segunda-feira, dia 12, por inadiáveis compromissos de rodagem do cineasta.
Capas desenhadas por João Botelho em exposição no TAGV
Um das capas de João Botelho, aliás João B., para as edições A Regra do Jogo, corria o ano de 1976. Este livro e muitos outros, d’A Regra do Jogo, da Afrontamento, da Centelha, dos Livros Cotovia ou da Cinemateca Portuguesa, serão objecto da exposição que, no TAGV, acompanhará a sessão do «Páginas Tantas» com João Botelho, no próximo dia 12 de Março.
Duarte Belo no TAGV
Sessão 2 de «Páginas Tantas»: Duarte Belo
Como vimos anunciando neste blog, terá hoje lugar, pelas 18.30h, no TAGV, a segunda sessão do Páginas Tantas. Será nosso convidado o fotógrafo Duarte Belo. O painel será constituído por Ana Maria Machado e Osvaldo Manuel Silvestre.
Duarte Belo nasceu em Lisboa, em 1968. Licenciatura em Arquitetura (1991). De uma obra fotográfica documental extensa são de destacar as obras Portugal — O Sabor da Terra, em catorze volumes (1997), onde se faz uma aproximação à fixação do tempo longo em Portugal, e Portugal Património, em dez volumes (2007-2008), um inventário do património cultural e natural, em sítio, de todo o espaço português. De outros trabalhos editados em livro, mais específicos, poderíamos destacar Orlando Ribeiro — Seguido de uma viagem breve à Serra da Estrela (1999); Ruy Belo — Coisas de Silêncio (2000); O Vento Sobre a Terra — apontamentos de viagens (2002); À Superfície do Tempo — Viagem à Amazónia (2002); Território em Espera (2005); Geografia do Caos (2005); Terras Templárias de Idanha (2006); Olívia e Joaquim – Doces de Santa Clara em Vila do Conde (2007); Fogo Frio – O Vulcão dos Capelinhos (2008); Comboios de Livros (2009); desenha, produz e fotografa as ilustrações do conto O Príncipe-Urso Doce de Laranja (2009); Cidade do Mais Antigo Nome (2010); O Núcleo da Claridade – entre as palavras de Ruy Belo (2011).
Além da exposição fotográfica Palavra, Lugar, que anunciámos anteriormente, também os livros de Duarte Belo serão objecto de exposição.
«Páginas Tantas», sessão 2: a exposição de Duarte Belo
© Duarte Belo
Como informámos antes, inaugurar-se-á na próxima segunda-feira, dia 6 de Fevereiro, uma exposição de Duarte Belo, próximo convidado do Páginas Tantas, que ficará no TAGV cerca de um mês. Reproduzimos aqui um dos dois painéis concebidos pelo fotógrafo. A exposição intitular-se-á Palavra, lugar, e pode ser visitada online. Transcrevemos em seguida o texto que Duarte Belo concebeu para a acompanhar:
A par de um levantamento fotográfico de todo o território português, foram sendo feitas fotografias, sem um propósito definido, de situações e lugares de trabalho, de todo um universo de fazeres, por vezes singulares, que sustentam as imagens, os discursos e os diálogos sobre as paisagens. É uma fracção desse mundo que aqui está em confronto próximo com os territórios mais afastados registados, ora sob um sol intenso, ora em fuga do tempo agreste dos invernos nevados das terras altas. Palavra é uma síntese possível da génese de um processo de comunicação pela imagem fotográfica e o relato do habitar os espaços de ausências humanas. Lugar é a construção de um novo espaço, entre o real e o imaginário, entre a maior cidade e o mais longínquo deserto.
«Páginas Tantas», sessão 2 com Duarte Belo
© Duarte Belo
A propósito da segunda sessão do Páginas Tantas, que terá como convidado Duarte Belo, chamamos a atenção para a exposição de fotografias do autor que o TAGV exibirá, a partir do dia 6 de Fevereiro. Reproduzimos uma das fotos da exposição.
«Páginas Tantas», sessão 2 com Duarte Belo
© Duarte Belo [óculos de mergulho de Ruy Belo]
No próximo dia 6 de Fevereiro, segunda-feira, pelas 18.30h, terá lugar no Teatro Académico de Gil Vicente a segunda sessão do Páginas Tantas. O convidado será Duarte Belo, autor de uma vasta e importante obra na fotografia portuguesa contemporânea. Chamamos a atenção para a exposição de fotografias de Duarte Belo que o TAGV exibirá, a partir do dia 6 de Fevereiro e durante um mês.
Um outro excerto de «O Retorno» de Dulce Maria Cardoso
É hoje. Hoje é o dia da independência de Angola. Angola acabou, a nossa Angola acabou. Não sei para que estou a olhar para a televisão, não sei por que estou aqui.
Os homens têm os fumos por cima dos casacos, uma ideia do Pacaça que diz, estou de luto, hoje morreu-me a minha terra, hoje tornei-me um desterrado, vivemos na certeza de que a terra onde enterramos os nossos mortos será nossa para sempre e que também nunca faltará aos nossos filhos a terra onde os fizemos nascer, vivemos nessa certeza porque nunca pensamos que a terra pode morrer-nos, mas hoje morreu-me a minha terra, hoje morreram os meus mortos e os meus filhos perderam a terra onde os fiz nascer, os meus desterrados como eu. O Pacaça cala-se e começa a falar o Sr. Belchior, estou de luto pela terra onde fui gente, antes de ir para lá era uma barriga inchada de fome e uma cabeça cheia de piolhos.
Dulce Maria Cardoso, O Retorno, Lisboa, Tinta-da-China, 2011, p. 154.
Um excerto de «O Retorno» de Dulce Maria Cardoso
Sundu ia maié, sundu ia maié, puta que a pariu. Vou dar pontapés em todas as portas até chegar ao pátio do recreio, a puta da professora mandou-me para a rua com uma falta a vermelho mas eu vingo-me, quero lá saber que as contínuas refilem, ó menino isto aqui não é a selva, não é como lá donde vens, aqui há regras, sundu ia maié, estamos a avisar-te menino, abro o peito e dou um pontapé noutra porta, conhecem-me de algum lado, olho as velhas bem de frente para lhes mostrar que não tenho medo, abro as narinas como o Pacaça diz que todos os animais fazem antes de atacar, as velhas recuam com as batas cinzentas e as varizes enfiadas nas meias elásticas, lá podias andar montado nos leões mas aqui tens de ter modos, as velhas refilam mas nem tentam impedir-me, têm medo de mim, passo pela cantina e dou um murro no carro dos tabuleiros, só me falta bater com a mão no peito para verem que acompanhava mais com os macacos do que com os leões, as velhas até saltam com o estrondo que o carro dos tabuleiros fez, se querem dizer mal dos retornados vou dar-lhes razões.
A puta da professora, um dos retornados que responda, como se não tivéssemos nome, como se já não nos bastasse ter-nos arrumado numa fila só para retornados. A puta a justificar-se, os retornados estão mais atrasados, sim, sim, devemos estar, devemos ter ficado estúpidos como os pretos, e os de cá devem ter aprendido muito depois da merda da revolução, se for como em tudo o resto devem ter tido umas lindas aulas.
Dulce Maria Cardoso, O Retorno, Lisboa, Tinta-da-China, 2011, pp. 139-140.
Um outro excerto de «O chão dos pardais» de Dulce Maria Cardoso
― Cuidado – disse a Clara apontando para a faca -, faz mal.
Apesar do sorriso, a voz de Elisaveta foi tão fria quanto a lâmina da faca onde Clara passava o indicador direito. Talvez tenha sido por isso que Clara passou o dedo com mais força. Sentia Elisaveta cada vez mais distante. E tinha sido culpa dela. Clara sabia que ajudar era o mesmo que querer negociar, trocar, permutar. E isso era verdade em qualquer língua porque era verdade no entendimento de qualquer humano. Quero ajudar-te queria dizer estou disposto a dar-te uma coisa de que posso prescindir e a receber em troca uma coisa que me faz falta. Chamava-se ajuda porque uma das partes estava impedida de negociar. Precisar de ajuda queria dizer, em qualquer língua, não poder recusar o que é oferecido e ter de dar o que é pedido.
Dulce Maria Cardoso, O Chão dos Pardais, Porto, Asa, 2009, p. 101.