Manuel António Pina: Farewell Happy Fields

«Entre a minha vida e a minha morte mete-se subitamente
A Atlética Funerária, Armadores, Casa Fundada em 1888.»

 

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Surpresas infantis

O álbum ilustrado Como é que uma galinha…, com texto de Isabel Minhós Martins e ilustrações da brasileira Yara Kono, é mais uma publicação do Planeta Tangerina (2011).

Mantendo a imagem de marca da editora e da coleção, insiste numa paleta cromática reduzida e de cores planas e pouco vibrantes. Na capa, a disposição sempre diferente de título, autores e editora e, no verso, a singularidade do código de barras, desta feita, enquadrado num vaso de flores.

Construída em torno da pergunta “como é que uma galinha”, a história traça o itinerário de uma descoberta partilhada entre as personagens retratadas e os pequenos leitores de idade pré-escolar. Ao mesmo tempo, tanto no corpo do texto, como nas guardas, abre-se espaço a outras histórias com galinhas.

Numa abordagem realista explora-se a surpresa admirada entre a insignificância da galinha, disforicamente tratada, e a dádiva assombrosa do ovo. Um tratamento que é compensado pela fantasia animada da fauna e articulado com um quotidiano alimentar de ordem aleatória.

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Bruaá: «Nós somos o caracol na beira da estrada que vê passar a corrida das grandes editoras»

Fundada em 2008 e com sede na Figueira da Foz, um saudável gesto de rebeldia face à macrocefalia lisboeta, a Bruaá Editora afirmou-se desde o início como um projecto marcante na área do livro infantil, assinalando, a par de alguns outros selos editoriais, a chegada da idade maior a esse segmento do mercado do livro em Portugal. Com uma produção ainda limitada em títulos, a Bruaá destacou-se pela escolha criteriosa dos livros, revelando autores de literatura infantil tão fundamentais como Shel Silverstein (autor aliás emblemático de uma simbiose profunda entre texto e ilustração) ou obras nas quais a questão da ilustração é indissociável da própria materialidade oficinal do objecto-livro, como nos casos de O livro negro das cores, de Menena Cottin e Rosana Faría, ou Na noite escura, de Bruno Munari. Com uma actividade repartida pela edição e pelo design, a Bruaá lançou-se mais recentemente na aventura de produzir os seus próprios títulos, combinando textos de referência – de Charles Cros e Daniil Harms – com ilustrações de autores portugueses e com formatos pensados para cada caso. Razões mais do que suficientes para ouvirmos Cláudia Lopes e Miguel Gouveia, o duo que vai justificando o bruaá que se ouve em torno dos livros da editora. Agradecemos a ambos a disponibilidade com que acederam ao nosso pedido de entrevista.

TP. Como descreveriam o vosso projecto editorial?

B. É um projecto independente, trabalhado por dois aprendizes do ofício, que se baseia fundamentalmente na edição de livros ditos infanto-juvenis e que tenta construir um catálogo diverso e com propostas alternativas que obedecem mais a um gosto pessoal do que a critérios puramente comerciais.

TP. Como definiriam o público-alvo da Bruaá?

B. Esse é um exercício bastante difícil. Sabemos que o que editamos se insere dentro do chamado âmbito infanto-juvenil, mas também sabemos que o adulto nunca sai de cena, nunca deixando a criança e o livro verdadeiramente a sós. A criança é sempre o último recipiente de um ciclo de criação, distribuição e escolha adulto. Adultos esses que, para além de carregarem um imaginário infantil e à medida que as propostas editoriais vão elevando as fasquia da qualidade e experimentação, acabam também eles por se tornarem no recipiente final. É de desconfiar quando alguém diz que escreve ou publica para idades entre x e y. Por isso, o nosso único alvo é a qualidade que procuramos num texto, numa ilustração e no design. O resto acontecerá algures entre os 8 os 80.

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